Ontem lembrei-me dum Poema de 99 com o qual quero homenagear, singelíssimamente, um grande Amigo virtual, cuja Terra Natal é lá para aquelas bandas...


A TIA TERESA MOLEIRA

É moleira a Tia Teresa
nasceu há 90 anos
mas 'inda mói a risteza
na mó dos seus desenganos.

Nas margens do Neiva, o rio
que passa pela Portela
faça calor, chuva ou frio
a raínha lá, é ela.

Seu castelo é seu moínho
seu abrigo e ganha pão
a quem dá todo o carinho
até no moer do grão.

É castelo de rudezas
nem tem electricidade
mas tem a mor das riquezas
a luz do sol da verdade.

O burrico é companhia
cavaleiro, bobo e pagem
no reino da fantasia
desta Mulher de coragem...

Mulher de fibra e temente
a Deus, em quem acredita
deixa no mundo a semente
da fé que afasta a desdita.

É moleira a tia Teresa
Nasceu há noventa anos
mas 'inda mói a tristeza
na mó dos seus desenganos!...


Maria Mamede

QUE TARDE...

Do fundo do tempo me chamaste
e cheguei primeiro...
Perdida na intemporal neblina
trilhei caminhos esconsos
cumes pedregosos
que foram tronos dispersos
de reinados onde fui escrava
apesar de raínha.
Lacustres ânsias
de cegonha sem ninho
fizeram de mim sombra
ao sol pôr...
Do fundo do tempo me chamaste
e cheguei primeiro...
Quantos anos, quantas vidas
quanto tempo perdido
por não te encontrar...
entanto, envelheci!
Enrugam-se as mãos e os olhos
e branqueiam meus cabelos!
Chegas enfim
e apenas posso dizer-te:
-Que tarde chegas
Meu Amor!...


Maria Mamede